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É verdade: drones podem ser perigosíssimos. Afinal, eles foram criados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos como armas de guerra e espionagem. Mas há muito espaço para eles entre o céu e a terra. Esses “veículos aéreos não tripulados” (nome oficial das máquinas em português, cuja abreviatura é vants) têm sido cada vez mais usados no mundo todo nas mais variadas aplicações, muitas delas benéficas. A tendência é que isso só aumente nos próximos anos.
Para entender o fenômeno, pense o seguinte: drones são veículos voadores operados remotamente cujo tamanho pode variar de alguns centímetros a dezenas de metros. Movidos em geral a bateria, eles podem carregar todo tipo de sensores concebidos pela imaginação humana e transportar diversos objetos. Em outras palavras: são robôs dotados de sentidos extremamente apurados, que conseguem transitar em locais de difícil acesso e realizar várias operações.
“Abriram um caminho sem volta”, vaticina Alexandre Ferreira, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador de geoprocessamento na empresa TerraSense. “Em termos de preço, está ficando cada vez mais acessível usar drones e a operação está cada vez mais fácil”, afirma. Isso acontece porque essas aeronaves têm se mostrado uma alternativa mais barata e eficiente em uma série de funções – para o bem e para o mal –, como você vai ver a seguir.
1 – Entregadores
Há razões de sobra para esperar que, num futuro não tão distante, todos os tipos de entregas sejam feitos por drones. Um deles é saber que gigantes do varejo como a Amazon e o Google têm tocado projetos bem-sucedidos com as aeronaves.
A empresa de tecnologia já testa há dois anos seu protótipo voador. No último teste, em agosto, a máquina percorreu 800 metros para entregar a um fazendeiro, na Austrália, um pacote de ração para seu cachorro. A empresa reconhece ainda estar longe de um produto completo, mas até agora deu tudo certo.
No Brasil, uma padaria de São Carlos (SP) entregou pão em um condomínio a 1.000 metros de distância. Problemas como a organização do espaço aéreo, a duração de baterias, o alcance do controle e a incapacidade de detectar objetos inesperados ainda precisam ser resolvidos. Mas até para os mais céticos isso é uma questão de tempo.
2 -Fiscais do Meio Ambiente
Uma das aplicações dos drones mais comemoradas, e já em ampla utilização, é o monitoramento ambiental. As aeronaves não tripuladas são alternativas mais baratas e eficientes para identificar áreas de desmatamento irregular, de queimadas, de controle de espécies ameaçadas de extinção, de proteção de mananciais, etc. Elas conseguem voar em trechos não acessíveis a helicópteros, custam menos do que uma operação desse tipo feita com um veículo tripulado e fazem o mesmo serviço.
A World Wildlife Fund (WWF), organização não governamental de proteção da natureza, tem utilizado vants de baixo custo, equipados com câmeras, para monitorar populações animais em situação de risco em locais de difícil acesso ou de alta periculosidade, como os orangotangos de Sumatra (Indonésia).
3 – Vigilantes Urbanos
Os veículos aéreos não tripulados foram concebidos pelas Forças Armadas americanas para fins de espionagem. Uma das consequências disso é que os drones costumam ser silenciosos e discretos, características que se encaixam perfeitamente às necessidades de algumas operações táticas policiais.
Em Paris (França), a Secretaria de Segurança Pública planeja usar vants para monitorar manifestações, investigações de tráfico de drogas e perseguições. Há também outras operações urbanas não policiais úteis às cidades. A Prefeitura de Curitiba (PR) incluirá em seu Plano Diretor diretrizes para regulamentar o uso de drones. A ideia é que eles sejam usados para produzir imagens para a central de monitoramento da capital e auxiliar a defesa civil na gestão de crises como temporais e engarrafamentos.
4 – Fazendeiros
A agricultura é, sem sombra de dúvida, um dos setores mais beneficiados atualmente pelo uso dos drones. Fotografias aéreas para análises de terreno que antes demoravam aproximadamente uma quinzena hoje ficam prontas em dois dias. Além da velocidade no diagnóstico, o custo-benefício é muito maior: é mais barato com o vant e a realidade de uma plantação pode ser completamente diferente em 15 dias.
A tecnologia permite um acompanhamento minucioso da produção agrícola. As câmeras de infravermelho acopladas às aeronaves conseguem detectar nas lavouras falhas de plantio, problemas de irrigação, pragas e até deficiências de nutrientes no solo. Dessa forma, se faz uma agricultura de precisão que utiliza melhor os recursos essenciais como a água, reduz o consumo de agrotóxicos e produz mais.
5 – Arqueólogos
Há alguns anos, arqueólogos já utilizam filmagens com sensores infravermelhos para identificar objetos arqueológicos enterrados, mas nunca na escala como vem sendo feito atualmente. Antigamente, esse trabalho podia ser feito por helicópteros, que tinham restrições de aproximação e são muito mais caros que os vants.
A facilidade e a acessibilidade dos vants estão promovendo uma verdadeira revolução na descoberta arqueológica e na proteção de sítios e tesouros. Dois cientistas americanos descobriram recentemente no Novo México (EUA) as ruínas de uma comunidade de índios pueblos de mil anos soterradas no deserto. No Peru, a equipe do arqueólogo Luis Jaime Castillo Butters tem usado um exército de drones para proteger antiguidades incas de grileiros e de especuladores imobiliários.
6 – Exibicionistas
Ok, essa talvez seja a aplicação menos relevante dessa lista, mas, provavelmente, é a mais divertida. Os drones vão elevar selfi es e fi lmagens pessoais às alturas (perdão pelo trocadilho). No Brasil, já existem empresas especializadas em fi lmes e fotos de casamento com tomadas aéreas feitas pelas aeronaves.
A moda começou com o casório do cantor Naldo com a Mulher Morango. “Depois disso, todas as noivas que nos procuram querem casamento fi lmado por drone”, diz Reynaldo Cavalcanti, dono da Foto Studio, que cobriu as bodas do casal. Outros grupos interessados nos vants são os amantes de esportes radicais. Já imaginou as tomadas possíveis para performances de skate, surfe e escalada?
7 – Engenheiros
Você vai construir uma rodovia e precisa de um levantamento topográfico rápido e detalhado? Utilize um drone. O melhor jeito para acompanhar o andamento da construção? Drones! Quer saber se as vigas estão bem colocadas? Drones! Deseja verificar rachaduras, infiltrações, vazamentos em pontos de difícil acesso? Drones, drones, drones! São incontáveis as aplicações dessas aeronaves não tripuladas na manutenção e construção de grandes obras e na indústria.
“Você pode ir a lugares a que um helicóptero tradicional não consegue chegar, mas um de meio metro chega e faz imagens excelentes”, diz Alexandre Ferreira, coordenador de geoprocessamento da TerraSense, especializada em sensoriamento remoto por meio de vants, que acompanhou as obras de construção do estádio Mané Garrincha, em Brasília, um dos palcos da Copa.
8 – Salva-vidas
Os drones surgiram como armas assassinas, mas também podem ser usados como ferramentas extremamente eficientes para salvar vidas. Em situações de desastres ambientais, como tsunamis, terremotos, deslizamentos de terra, furacões, etc., ele pode sobrevoar as áreas atingidas e até mesmo entrar entre os escombros de edificações para detectar vítimas, seja com sensores térmicos ou infravermelhos ou com câmeras normais.
O mesmo uso pode ser feito para localizar pessoas perdidas em trilhas em lugares remotos e selvagens. Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem empregado drones em missões pacíficas em zonas de guerra na África, tanto para localizar criminosos quanto para entregar alimentos e remédios em áreas de difícil acesso.
9 – Cineastas
Como era de se esperar, um aparelho voador de baixo custo com uma câmera acoplada e condição de executar manobras mirabolantes não passou despercebido pela sétima arte. As possibilidades que os drones estão abrindo para o cinema são incríveis, principalmente para produtores independentes com orçamentos mais modestos.
Mas os grandes estúdios de Hollywood e de outros países também têm explorado a tecnologia. O helicóptero remoto Flying-Cam SARAH 3.0 foi empregado para filmar algumas das cenas de ação mais eletrizantes de filmes como 007 – Operação Skyfall e Transformers: A Era da Extinção. A máquina, que já foi utilizada em mais de 80 produções cinematográficas, consegue capturar ângulos impossíveis de serem alcançados pelas tradicionais gruas e tomadas de helicópteros. De tirar o fôlego.
10 – Jornalistas
Os dias de glória do comandante Hamilton, o piloto de helicóptero mais famoso da cobertura jornalística televisiva, estão contados. As principais emissoras de televisão do Brasil estão investindo na compra de veículos aéreos não tripulados e no treinamento de operadores para substituir as custosas aeronaves.
Algumas delas, inclusive, já utilizaram os vants na cobertura de manifestações. Além de mais baratos, os drones podem ser mais vantajosos para a cobertura de desastres do que os helicópteros. Eles são menores e conseguem voar a altitudes mais baixas (e por isso conseguem ter acesso a escombros e fazer imagens em tempo recorde, por exemplo). Sua operação também é mais ágil e fácil e apresenta menos riscos às pessoas.
Entre vários setores, um dos mais beneficiados é, seguramente, a agricultura. “Antigamente, um levantamento topográfico de uma fazenda de 500 hectares duraria, em média, entre uma e duas semanas. Hoje em dia, com os drones, conseguimos fazer em dois dias”, explica Alexandre Ferreira, da UnB. A tecnologia dos vants é mais simples e faz o mesmo trabalho. Não gasta com combustível e tripulação e as fotos e filmagens são visualizadas em tempo real.
Da mesma forma, os aparelhos se mostram incrivelmente eficazes na vigilância ambiental. “Esse tipo de equipamento pode fazer o controle de extração irregular de terra e de desmatamento em áreas de floresta, que normalmente ficam encobertas por nuvens, dificultando o trabalho de satélites”, explica Rodrigo Kuntz, dono da fabricante de drones BRVants.
Obstáculos urbanos
Voar em áreas não urbanizadas, no entanto, é mais simples. Nas cidades do Brasil e da maior parte do mundo, a propósito, a operação urbana de vants é proibida, por razões como a segurança. Os drones ainda não conseguem perceber obstáculos inesperados como fios de alta tensão, galhos de árvores e outros objetos voadores. “Tecnicamente é possível resolver isso e já existem soluções sendo testadas; a questão é como organizar o espaço aéreo”, afirma Giovani Amianti, engenheiro mecatrônico e diretor da Xmobots, fabricante de vants de São Carlos (SP).
Ainda vai demorar para vermos uma cidade ocupada por drones, mas a discussão já começou. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirma que até o final de 2014 divulgará uma regulamentação mais abrangente para aeronaves remotas, mas apenas em relação a voos em áreas segregadas.
De olho no futuro, a capital do Paraná, Curitiba, está estudando a inclusão, em seu Plano Diretor, de um conjunto de determinações que não dificultem o uso dos vants na área urbana, mas sem prejudicar a vida dos moradores da cidade. “Os drones possuem aplicações muito importantes para as cidades em setores como o da defesa civil. Não podemos deixar de incluir num Plano Diretor, que tem a duração de dez anos, uma legislação que os contemple”, ressalta Paulo Miranda, secretário da Informação e Tecnologia da Prefeitura de Curitiba.
A lista de setores que podem tirar proveito de uma ferramenta como essa é enorme. Nas páginas desta reportagem, enumeramos algumas das funções mais interessantes que ela pode executar – e algumas das mais preocupantes. O que ainda está por vir, podemos apostar, seria capaz de preencher toda uma edição de PLANETA.
(Grifos Nossos)
Fonte: Revista Planeta
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