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O uso dos VANTs para gestão e levantamento de propriedades agrícolas avança cada vez mais, conheça a opinião de grandes empresas do setor de cana-de-açúcar como a Raízen e Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo) sobre suas experiências na utilização desta tecnologia.
Embora o céu não seja de brigadeiro para o setor sucroenergético, voos em busca de alternativas para obter uma safra promissora têm sido o diferencial das empresas do setor que tem conseguido escapar da crise. Uma das opções apontadas é o foco no campo, identificando e sanando problemas das lavouras em face de uma melhor qualidade e produtividade da matéria-prima. Neste contexto, os VANTs (Veículos Aéreos Não-Tripulados) ou drones têm conquistado cada vez mais espaço devido à agilidade e precisão no monitoramento dos canaviais.
O Grupo Raízen é um dos que apostaram nesta nova tecnologia. De acordo com o diretor de produção agrícola do Grupo, Antônio Fernando Pinto de Lima, investimentos no novo sistema vêm sendo feito desde o ano passado. Anteriormente uma equipe de campo fazia o levantamento fotográfico para medir as áreas. Com o tempo, houve a necessidade de novos detalhes, entre eles, descobrir o que fazer para a conservação do solo.
“Devido à esta demanda, nós evoluímos usando um quadriciclo ou motos com GPS que gerenciava as áreas e fazia o levantamento planialtimétrico. Isso, além de ser demorado, tem alguns riscos de acidentes. Então, há dois anos começamos a aprender a usar a tecnologia do VANTs”, contou o diretor, explicando que o equipamento agora faz todo o levantamento topográfico em muito menos tempo. “Este trabalho é importantíssimo para a hidrologia dos córregos. Eu preciso saber onde essa água caminha para fazer uma maior conservação do solo”, analisou.
Com a moto era feito levantamento em 500 hectares por dia, passando para 1200 hectares com o uso dos drones. O planialtimétrico é feito antes de cada renovação das lavouras e as imagens geradas pelos drones são essenciais para organizar o plano de renovação dos canaviais. “A vantagem é que o equipamento já sai com o voo planejado e, com esse sistema, temos um maior detalhamento da área, pois antes do seu uso, eu não andava com a moto em 100% do meu terreno e com o Vant consigo fazer isso”, elucidou, contando que a resolução das imagens é muito precisa, oferecendo a informação de 10 cm do talhão, o que possibilita maior precisão nas práticas conservacionistas, ou seja, no manejo e conservação do solo e água.
Lima frisa que ainda estão aprendendo outros usos para o drone e desenvolvendo ferramentas para interpretá-las, mas os benefícios da tecnologia foram tão expressivos que a empresa adquiriu seis novos equipamentos recentemente, vislumbrando novas possibilidades de uso, como no caso do levantamento de falhas de plantio.
“A empresa tinha um sistema de medições por amostragem de falha do canavial e, com a amostragem ao acaso, o talhão poderia não representar bem toda a fazenda. E assim nossa equipe desenvolveu um sistema que nos mostra a imagem, sua interpretação e quantifica as falhas do canavial. Através dessas informações, se tiver falhas, corrige e faz um plano em rela- ção ao começo, isso é feito em 100% da área de plantio”, explicou o engenheiro.
A Raízen tem um plantio de 80 mil hectares de renovação anual e o monitoramento é feito em toda área para o preparo do solo e pós-plantio. Recentemente também passaram a utilizar o drone para levantar a soqueira.
“O equipamento mostra a situação das falhas e de ervas daninhas. Agora nossa equipe está aprendendo como tratar essas imagens e refletir isso para o nosso uso, com mais precisão na avaliação, pois monitorando 100% do nosso canavial, não corremos o risco no caso de uma amostragem de praga de solo, coincidentemente ir em uma área que não tenha praga”, alegou.
De acordo com o diretor, a nova metodologia só não é usada em quatro das 24 unidades do Grupo Raízen, que não têm a parte agrícola.
A empresa não revelou quanto investiu nos novos equipamentos, que foram produzidos na Suíça e adquiridos com representantes no Brasil, mas ressaltou que o aporte já resultou em redução de custos.
“Porque eu estou dobrando minha capacidade de levantamento, mas o principal é que agora temos um maior detalhamento das áreas, são ganhos qualitativos que o equipamento fornece nas informações, o que possibilita planejar melhor meu canavial, como vou fazer meu traçado, a sistematização é importantíssima: conhecer o que está acontecendo quais são os pontos de declividade que possam correr risco e enxergar o que está acontecendo em 100% na minha área, pensando no que vai acontecer para que tenha o máximo de qualidade da cana”, argumentou.
Lima também lembrou que o treinamento é fundamental para implantação do sistema, tanto que a empresa tem uma equipe de tecnologia para tratar as imagens fornecidas pelos drones e as customiza para a Raízen.
Associados da Canaoeste também utilizam a tecnologia
A Agropastoril Paschoal Campanelli S/A, empresa agrícola referência em utilização de tecnologia na cultura da cana-de-açúcar, localizada nos municípios de Severínia, Bebedouro, Olímpia e Altair, do interior de São Paulo, começou a usar a tecnologia em agosto de 2014.
“Adquirimos o drone com o intuito de monitorar a lavoura, pois depois do fechamento dos talhões é complicado verificar se há erva daninha, pragas ou falhas no desenvolvimento da planta”, explicou Fábio Cesar Consentino Campanelli, gerente de produção da empresa.
Segundo ele, o monitoramento, antes feito por funcionários, rua a rua do canavial, ganhou agilidade com o sistema. “Ao detectar uma mancha nas imagens captadas pelo drone, nossa equipe de inspeção vai até o local exato para verificar o que está acontecendo. Essa leitura facilitou muito a entrada nos talhões e a solucionar mais rapidamente os problemas”, admitiu Campanelli.
Embora ainda seja um projeto piloto, a intenção é ampliar o investimento na tecnologia com a aquisição de novos VANTs “E uma ferramenta muito interessante e pretendemos sim investir em equipamentos com maior alcance e que ofereça melhores imagens”, disse o engenheiro agrônomo, constatando que o uso da tecnologia no setor agrícola ainda é tímido, mas tem muito potencial para se desenvolver, principalmente com relação a preços.
Fundada em 1982, a Agropastoril é uma empresa familiar e começou a plantar cana em 2001, em substituição à cultura da laranja. Além da cana-de- -açúcar, que a empresa fornece para usinas de açúcar e álcool do interior de São Paulo, a Agropastoril também cria gado de confinamento e planta milho, base da ração dos animais. Atualmente, tem canaviais em uma área de oito mil hectares e produz cerca de 700 mil toneladas tendo uma produtividade média de 95 toneladas por hectare.
Tecnologia cada vez mais viável no Brasil
Para o pesquisador da Embrapa Instrumentação, de São Carlos/SP, Lúcio André de Castro Jorge, existe uma tendência muito forte de que a tecnologia de ponta dos drones venha a ser uma grande aliada no mapeamento das propriedades agrícolas. Em entrevista para a Canavieiros, o profissional destaca as vantagens de investir no equipamento. Confira:
Revista Canavieiros: A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estuda novas possibilidades de aprimorar a tecnologia de Drones/VANTs desde 1998. Dessa época até os dias atuais, quais avanços a entidade conquistou?
Lúcio Jorge: Houve uma mudan- ça significativa desde 1998 até hoje na tecnologia disponível para drones e VANTs. A Embrapa adquiriu muita experiência no uso deste tipo de aeronaves, nos tipos de sensores que podem ser utilizados e, principalmente, consegue agora ajudar o agricultor a adquirir o seu, qual a configuração adequada para cada uso, e também desenvolveu ferramentas que ajudam o agricultor a processar as imagens obtidas e transformá-las em informações úteis.
Revista Canavieiros: Podemos dizer que os Drones/VANTs são a evolu- ção para o mapeamento das propriedades rurais. Poderia pontuar quais são as aplicações, vantagens e desvantagens dessa tecnologia?
Lúcio Jorge: Sim, existe uma tendência muito forte de que esta tecnologia venha a ser uma grande aliada no mapeamento das propriedades. A grande vantagem seria a flexibilidade no uso, o baixo custo operacional, a obtenção de imagens de alta definição e de produtos cartográficos que antes eram extremamente caros.
Revista Canavieiros: A tecnologia está mais acessível no Brasil ou o custo continua sendo um obstáculo para que o produtor rural/usinas a adquira? Qual o valor de um equipamento?
Lúcio Jorge: A tecnologia está se tornando mais viável no Brasil, devendo vir a ser ainda mais barateada à medida que as empresas nacionais se firmarem no seu fornecimento. Ainda dependemos de variações do dólar, mas pode-se dizer que o custo/benefício tornam viáveis as operações. O valor varia de 10 mil reais a 300 mil reais, dependendo da configuração da aeronave.
Revista Canavieiros: Poderia falar um pouco sobre o curso de uso de Drones/VANTs em Agricultura de Precisão ministrado pela Embrapa Instrumentação? Quando ocorre? Qual o conteúdo? Qual público indicado?
Lúcio Jorge: A Embrapa Instrumentação está organizando cursos de Uso de Drones/VANTs para agricultura de precisão com previsão de realização a partir de junho. Os cursos devem ser mensais e devem passar desde os conceitos de composição e construção de um drone, operações, uso na agricultura, conceitos de sensoriamento com drones, até o processamento das imagens, tudo em aulas teóricas e práticas onde cada participante poderá ter o primeiro contato com a tecnologia, suas vantagens e desvantagens na prática.
Revista Canavieiros: A Embrapa apresentou alguma novidade sobre os Drones/VANTs na Agrishow 2015?
Lúcio Jorge: A Embrapa apresentou os softwares que desenvolveu para uso com drones e VANTs. Entre eles, a nova versão do SISCOB Pro, cujas novas funcionalidades permitem o processamento mais rápido e de maior quantidade de imagens.
Trechos da Revista Canavieiros versão Junho de 2015
Para ver a matéria completa acesse a versão online: Revista Canavieiros
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