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A agropecuária brasileira sempre teve na tecnologia uma aliada para colocar o País entre os líderes na produção de alimentos no mundo e os drones são a “bola da vez” em inovação tecnológica. Os veículos aéreos não tripulados – ou Vant -, como são chamados, foram adotados há aproximadamente três anos pelo setor sucroalcooleiro para o monitoramento dos canaviais e identificação de plantas com desenvolvimento aquém do esperado e agora estão invadindo as lavouras de grãos. O interesse é assegurar a produtividade projetada no início do ciclo ou até mesmo superá-la.
A Xmobots, uma das principais fabricantes de drones do Brasil, viu a procura por parte de grandes produtores de grãos dobrar neste começo de ano em comparação ao ano passado. “Quando olhamos as prospecções de negócios agora e no início de 2015, percebemos que a demanda de empresas produtoras de grãos aumentou mais de 100%, numa estimativa bem conservadora”, disse ao Broadcast Agro a diretora comercial da Xmobots, Thatiana Miloso.
Esse maior interesse dos produtores de grãos tem reflexo direto no crescimento da demanda pelos drones do setor agrícola como um todo. O número de cotações feitas pela Xmobots apenas a partir de novembro do ano passado já equivale, aproximadamente, à metade das prospecções feitas nos 12 meses de 2015. Até o momento, as empresas do agronegócio vêm utilizando o equipamento para identificar falhas na plantação, detectar a presença de pragas, deformidades nas plantas, estresse hídrico e coletar dados para traçar estimativas de safra e produção das áreas monitoradas.
Mas elas já perceberam que não tardará muito até que a tecnologia se transforme numa forte arma de combate às pragas, uma das principais ameaças à produtividade. Por isso, vêm demandando da indústria e de entidades de pesquisa equipamentos capazes de identificar com precisão qual é a praga presente nas lavouras monitoradas pelo equipamento – produto ainda inexistente no mercado. “Temos sido extremamente demandados para desenvolver drones e softwares capazes de detectar o tipo de praga presente na planta”, afirmou Lúcio André de Castro Jorge, pesquisador da Embrapa Instrumentação.
A tarefa, no entanto, não é fácil. Para que os drones possam ajudar empresas e produtores a detectar qual é a praga que ataca uma planta, entidades de pesquisa e indústria ainda precisam identificar o tipo de câmera com precisão adequada para correlacionar as características da planta com determinada doença. O mercado disponibiliza hoje três “categorias” de drones, de acordo com a precisão da câmera do equipamento. As mais simples capturam imagens com a precisão do olho humano e, portanto, não ajudam na detecção prévia da praga. Drones com câmera com infravermelho próximo, como são chamadas, já conseguem fazer a leitura de algumas informações abaixo da superfície visível da planta como, por exemplo, o nível de nitrogênio e fósforo, segundo o pesquisador da Embrapa.
A resposta para a detecção da praga exata que ataca plantações, segundo Lúcio Jorge, pode vir das câmeras multiespectrais (até dez vezes mais precisa que a câmera com infravermelho) ou hiperespectrais (300 vezes mais precisa). “Estamos avaliando qual é a faixa necessária para esta atividade, a fim de adaptar as câmeras mais elaboradas à demanda dos produtores”, explicou o pesquisador. Há cerca de quatro anos, uma câmera multiespectral custava R$ 1 milhão, lembra ele. Hoje, vale em torno de R$ 100 mil. “Nos próximos dois ou três anos devemos chegar a um modelo”, complementou Lúcio Jorge.
O diretor presidente da Xmobots, Giovani Amianti, concorda que a tecnologia para identificar o tipo de doença que atinge as plantas deve tardar alguns anos para chegar ao mercado. “É uma promessa futura. Existe a tendência de que a hiperespectral consigo fazer isso”, diz. A Xmobots já trabalha com drones dotados de câmeras multiespectrais, conta Amianti, mas modelos com câmeras hiperespectrais “são caros e ainda há não justificativa para seu uso”.
Além da identificação de pragas, indústria e entidades de pesquisa estão de olho também no uso de drones para aplicação de defensivos. No ano passado, pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) de São Carlos desenvolveram um projeto piloto de um sistema de pulverização de agroquímicos com drones, que ainda não saiu do âmbito acadêmico. Na visão de Amianti, da Xmobots, a esperada regulamentação do uso de drones pela Anac pode levar ao uso do equipamento em larga escala e permitir aprimorar a troca de dados entre câmeras e softwares que decodificam as imagens. “Talvez no ano que vem comecemos a falar em aplicação de herbicidas feita pelos drones”, afirmou.
Regulamentação. Faltam dados estatísticos sobre a comercialização dos veículos aéreos não tripulados. O mercado é novo e, no caso brasileiro, ainda sem regulamentação. Nos Estados Unidos, a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em Inglês) regularizou o uso civil de drones apenas no final de 2015. No Brasil, a previsão é de que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) regulamente o uso destes equipamentos até abril.
O pesquisador da Embrapa estima que mais de 2 mil drones estejam operando nas regiões produtoras brasileiras. Mas o número de pedidos de autorização de voo de drones para uso agrícola expedidos nos últimos dois anos pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão subordinado ao Ministério da Defesa e ao Comando da Aeronáutica, é bem menor, de cerca de 120, nos cálculos do pesquisador. “Muita gente está usando drones sem ter autorização”, afirmou Lúcio Jorge.
Mercado brasileiro. Aproximadamente dez empresas atuam hoje no Brasil fabricando drones. Mas nem todos os equipamentos que sobrevoam terras do País foram adquiridos de empresas brasileiras. Metade dos produtos ainda é importada, em boa medida, da China, segundo Lúcio Jorge, da Embrapa. Além de adquirir os drones, produtores e empresas precisam de softwares capazes de ler as imagens e gerar informações novas a partir delas – por exemplo, a carência de aplicações de defensivos ou de maior irrigação em um lote de terra. Também têm de investir em computadores mais potentes e com memória suficiente para processar o enorme volume de imagens com alta resolução. “Tem empresas que investem R$ 50 mil em um bom computador”, diz o Lúcio Jorge.
O preço final dos drones no mercado nacional varia de R$ 15 mil a R$ 300 mil. Há modelos com autonomia para percorrer 200 hectares por voo e também 12 mil hectares em um único voo. Os mais demandados, segundo Amianti, da Xmobots, têm sido os destinados a áreas de médio porte, de aproximadamente 300 hectares, para monitoramento de lavouras de cana-de-açúcar, eucalipto e arroz. Estes equipamentos, custam, em média, R$ 200 mil.
“Nos dois últimos anos, o setor que mais absorveu a tecnologia, de longe, foi o setor sucroalcooleiro”, afirmou Amianti. Apesar disso, a empresa tem atentado para a demanda crescente de grandes empresas produtoras de grãos. Em maio do ano passado, lançou uma nova versão de drone capaz de percorrer 12 mil hectares em um só voo e destinado aos setores de soja e algodão. “A primeira versão do produto cobria metade desta área. Lançamos um de maior alcance porque havia demanda”, justificou. O custo do produto gira em torno de R$ 300 mil. Metade das vendas da Xmobots, segundo Amianti, foi viabilizada por linhas de crédito do Finame e pelo Cartão BNDES (destinado a financiamento de compras de micro, pequenas e médias empresas). As demais compras têm sido feitas com recursos próprios dos clientes.
Em 2016, o mercado de drones no Brasil (incluindo venda de equipamentos e prestação de serviços) deve movimentar entre R$ 100 e R$ 200 milhões, na estimativa do diretor da empresa de geoprocessamento MundoGEO e promotora da primeira feira do setor, a DroneShow, Emerson Zanon Granemann. O levantamento diz respeito não apenas ao setor agrícola e ainda não é possível estimar o quanto deste volume, no Brasil, corresponderia ao investimento do agronegócio. No mundo, de acordo com dados do grupo norte-americano de pesquisa aeroespacial Teal Group, coletados por Granemann, o uso de drones movimentou cerca de US$ 6,4 bilhões em 2014. Estima-se que 90% dos equipamentos em operação no mundo são destinados para uso militar e 10% para aplicações na área civil. O setor agrícola responde por 70% dos negócios na área civil em escala global, de acordo com Granemann. A projeção é de que, em 2024, o mercado de drones como um todo movimente, por ano, cerca de US$ 11,5 bilhões.
Fonte: Estadão
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