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Artigo original do site SF Agro | Farming Brasil: https://sfagro.uol.com.br/drones-nos-estados-unidos/
Sistemas de veículos aéreos não tripulados (UAS) devem transformar a indústria agrícola
Por Laurie Bedord, da Successful Farming nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, a discussão sobre o uso de veículos aéreos não tripulados está mais amadurecida do que no Brasil. Um estudo da Association for Unmanned Vehicle Systems International (AUVSI) mostra que a indústria de UAS (drones) criará mais de 100 mil empregos e gerará US$ 82 bilhões em receita em apenas 10 anos nos Estados Unidos.
A agricultura de precisão deve ser responsável por mais de US$ 65 bilhões desse mercado. A realidade é que nem um centavo disso será ganho antes que a Federal Aviation Administration (FAA, a agência que regula o setor aéreo) finalize as regras para integração de drones ao espaço aéreo dos EUA.
“Todos entendem que a agricultura será um grande mercado”, afirma Ben Gielow, ex-conselheiro geral da AUVSI e gerente sênior de relações com o governo. “Realmente acredito que, daqui a alguns anos, os fazendeiros estarão em desvantagem competitiva se não usarem essa tecnologia. Essa será a dimensão da coisa”, diz.
Há quase uma década, a FAA vem elaborando regras para integrar os drones ao espaço aéreo dos Estados Unidos. “Achávamos que estaríamos voando em 2011. Obviamente, isso não aconteceu.”
No final de 2013, seis locais de teste tinham sido escolhidos; em meados de agosto, todos estavam em operação. Informações coletadas ajudarão a FAA a responder perguntas essenciais e dar informações cruciais sobre como o drone fará interface com o sistema de controle de tráfego aéreo.
Embora a FAA esteja claramente fazendo progresso, a grande peça que falta continua sendo escrever as regras. Então, em que ponto está no desenvolvimento das diretrizes necessárias para integrar veículos aéreos não tripulados ao espaço aéreo americano?
Regras Propostas
Em 15 de fevereiro de 2015, um conjunto proposto de regulamentos para pequenos drones – com menos de 25 kg – foi divulgado pelo FAA. Pela proposta, quem comanda um pequeno drone deve ter pelo menos 17 anos de idade, obter um certificado de operadora e ser aprovada em um teste de conhecimento que custaria US$ 150.
Os voos seriam limitados a uma altitude de 500 pés acima do solo e não poderiam exceder 160 km/h. Além disso, pequenos drones devem ficar no campo de visão do operador. “As regras propostas são um referencial crítico e já deveriam ter sido aprovadas há muito tempo”, afirma o presidente e CEO da AUVSI, Brian Wynne. “A tecnologia tem ficado basicamente em solo enquanto muitos usuários em potencial esperam que a estrutura regulatória a alcance. Este é um bom primeiro passo.”
Impacto sobre a agricultura
O que tudo isso significa para a agricultura? As restrições da FAA se aplicam a fazendeiros que sobrevoam seus campos? “Nas Regras Especiais para Aeromodelos da Lei de Modernização e Reforma da FAA de 2012, percorrer um campo para determinar se as lavouras precisam de água quando são cultivadas para aproveitamento pessoal seria considerado um hobby”, explica Les Dorr, da FAA. “Determinar se as lavouras cultivadas que fazem parte de uma operação de produção comercial precisam de água requereria a autorização da FAA.”
Embora as regras atuais sobre UAS continuem em vigor até a FAA implementar uma regra final, ela concede isenções caso a caso sob a Seção 333. “Elas também devem obter um certificado de autorização”, observa Dorr. Embora as regras propostas estejam abertas a consulta pública, ainda pode levar um ano ou mais até que sejam finalizadas. “Voar sobre uma fazenda, tecnicamente, só será algo legal daqui a alguns anos”, afirma Gielow. “Entretanto, se você tem um veículo aéreo não tripulado, ele sobrevoar o campo e você utilizar as fotos para tomar decisões sobre a lavoura, a FAA já afirmou que não virá atrás de você.”
Como o produtor americano está usando drones?
Os produtores acreditam que a FAA não tem a intenção de autuá-los por uso ilegal e estão tirando proveito desta tecnologia. “Ter um UAS é como ter uma retroescavadeira ou uma empilhadeira”, afirma o produtor de Illinois Matt Barnard. “Você só percebe o quanto vai usar até ter um em sua fazenda. Então, pergunta como conseguiu viver sem aquilo.” Há mais de um ano, Barnard está usando a tecnologia nas seguintes quatro áreas de operação:
1 – Dano à lavoura
“A primeira forma em que o drone se pagou foi em um pedido de indenização do seguro por dano por granizo”, observa. “Houve alguma discórdia sobre exatamente quais áreas foram afetadas. O liquidador do seguro da lavoura e eu estávamos chutando que era um campo de 80 acres medindo em terra. Foi incrível conseguir ter uma perspectiva aérea. Acabou que a área afetada era maior do que achávamos. Aquilo imediatamente se pagou sozinho.”
“Com esta tecnologia, também descobri que tive algum dano na lavoura devido a pulverização e adubação de cobertura do milho”, continua Barnard. “Consegui dar passos corretivos antes que houvesse mais dano. Foram danos que eu só teria visto mais tarde durante a avaliação ou na ceifadora, o que nunca é cedo o bastante para poder fazer qualquer coisa quanto a isso.”
2 – Condições da lavoura
Barnard usou a tecnologia para avaliar as condições da lavoura, suplementando parte do mapeamento de NDVI com verificação em terra e checar se o que estava vendo no mapa realmente era o que se via no campo.
3 – Momento de colheita
”Teve muito vento e, com o drone, consegui ver algumas áreas nas quais o milho estava sendo derrubado. Isso me deu a habilidade de colocá-los no topo da minha lista de colheita.”
4 – Drenagem
“Vi mais benefício quando se trata de tomar decisões de drenagem”, diz Barnard. “Em vez de ver o que eu achava que era o problema ou ponto úmido, na verdade vejo onde começou ou como acabou se formando.” O que começou como um período de experimentação para ver do que o drone era capaz e como poderia lhe ajudar em sua operação se transformou em um desejo de incorporar permanentemente a ferramenta valiosa em seus planos de gestão.
Testes de campo
Um dos seis locais de teste escolhidos pela FAA, North Dakota está se posicionando para se tornar um centro nacional em pesquisa e desenvolvimento de drones, para expandir sua reputação nacional em ciências aeroespaciais e diversificar ainda mais a sua economia.
Até o momento, o estado investiu mais de US$ 19 milhões em pesquisas e desenvolvimento de drones e também está colaborando com organizações para construir esta indústria emergente. “Temos setores como agricultura, energia, manufatura avançada e tecnologia no estado. O importante de ser um local de teste é vincular todos eles a operações de drones”, diz Alan Anderson, diretor comercial do North Dakota Department of Commerce.
A principal meta das operações iniciais do local é mostrar que o drone pode verificar a qualidade do solo e o status das lavouras para apoiar pesquisas em agricultura de precisão do North Dakota State University Extension Center.
“Quando produtores têm fazendas de 5.000, 10.000 ou 15.000 acres para percorrer e acompanhar, a tecnologia do drone lhes permitirá sobrevoar milhares de acres ao longo de um ou dois dias. Com as informações obtidas, eles ficarão na posição de reagir não apenas a uma ou duas áreas, mas também ao total da lavoura”, diz Blaine Schatz, diretor e agrônomo pesquisador do NDSU Carrington Research Extension Center. “Além disso, muitas questões às quais os fazendeiros querem responder mudam com o tempo. A oportunidade de ser muito pontual na tomada de decisões e reagir a um problema é muito empolgante.”
O local também coletará dados operacionais relativos a segurança necessários para integração desses equipamentos ao espaço aéreo. Essas informações ajudarão a FAA a analisar processos atuais para estabelecer a navegabilidade dos drones e a maturidade do sistema.
Os dados de manutenção coletados durante operações do local embasarão um banco de dados de protótipos para manutenção e reparo. “Esses dados formarão a base para a redução de riscos e garantia da continuidade de operações seguras dos drones”, afirma Michael Huerta, da FAA. “Acreditamos que os programas de local de teste serão extremamente valiosos para integrar veículos aéreos não tripulados e incentivar a liderança dos EUA no avanço desta tecnologia.”
Avalie antes de investir
Qual é seu uso pretendido para o drone?
“Quando alguém quer adquirir um drone, quer que ele faça tudo”, afirma Matt Barnard, fazendeiro de Illinois e dono da Crop Copter. “Há duas categorias muito diferentes: verificação em terra e coleta de informações. Você usará para ver o que acontece em tempo real no seu campo ou tentar coletar dados para tomar uma decisão de gestão? Precisa descobrir qual é o objetivo mais importante.”
Qual plataforma é melhor para você?
Um drone giratório é um dispositivo semelhante a um helicóptero que normalmente tem quatro a seis rotores para dar estabilidade. Ele funciona melhor quando você precisa de detalhes máximos sobre uma área relativamente pequena. Como tem de levantar o próprio peso, limita a eficiência da bateria, diz Kevin Price, da AgPixel. “Voamos a cerca de 70 km/h com nosso menor modelo e conseguimos uns 25 minutos em uma carga de bateria. Podemos cobrir aproximadamente 50 acres [20,2 hectares] em um dia.”
Um sistema de asa fixa opera como um pequeno aeromodelo. É composto por espuma leve e mais eficiente no uso de bateria. “Conseguimos fazer até 80 minutos de voo com uma carga de bateria”, diz. “Ele pode voar até 160 km/h. em um bom dia, conseguimos cobrir até 1.000 acres [404,6 hectares] fazendo imagens de uma lavoura”.
Você precisa de quanto tempo de voo?
“Se você simplesmente quer avaliar e tirar fotos ou filmar, menos tempo de voo dará certo”, explica Barnard. “Escolha uma plataforma que seja estável e possa voar com o máximo possível de vento.” Se estiver interessado em coleta de dados, voos mais longos serão mais vantajosos. “Procure plataformas que voem mais de 30 minutos e pesquise sobre recursos e benefícios”, recomenda.
Quanto está disposto a gastar?
“Tenha uma ideia honesta e sincera do que é um orçamento prático”, observa Barnard. “Lembre: você recebe o que paga para ter.”
Qual a importância do serviço quando ele falha?
“Se algo acontecer, o que você fará? Para quem vai ligar?”, pergunta Barnard.
Como você vai armazenar, organizar e gerenciar todos os dados?
“Para obter o verdadeiro valor de um drone, você precisa ter um plano de como gerenciar todos os dados que ele está gerando”, diz Barnard.
Você precisa testar?
“Se vai fazer este investimento, no mínimo, leve para fazer um teste”, diz Barnard.
Seguro
Quando os veículos aéreos não tripulados entraram no campo, esse era um território inexplorado pela indústria de seguros. “O principal motivo para começar a oferecer cobertura foi termos recebido diversos produtores e outros perguntando sobre cobertura”, afirma Dayton Kilgus, agente de seguros da Metz Stoller.
Em abril de 2013, a empresa começou a oferecer seguros para drones. “Os produtores devem tratar o drone como qualquer outro equipamento da fazenda. Investiram naquele produto – precisam protegê-lo”, afirma Kilgus.
O agente de Illinois recomenda considerar cobertura de propriedade e responsabilidade. “A cobertura de propriedade protegeria seu investimento no drone. A cobertura de responsabilidade lhe protege se você for considerado responsável pelo uso de um”, observa. “A maioria das apólices protege fazendeiros se eles o usam no próprio campo, mas pode excluir o uso fora de seus campos. É muito importante entender o que é e não coberto.”
A outra área que os fazendeiros americanos consideram é a invasão de privacidade. “Com base em minhas pesquisas e nas companhias com as quais lidamos, é comum não oferecer cobertura para invasão de privacidade”, nota Kilgus. “Acho que há uma percepção de que existirão muitos processos relativos à invasão de privacidade, então as seguradoras não se sentem à vontade em assumir esse risco.”
Segundo ele, o custo do seguro é bastante razoável. “A cobertura de responsabilidade para um produtor custa de US$ 15 a US$ 200 por ano, depende muito do valor do drone. Em termos relativos, não é muito caro.” O principal é ter uma conversa com seu agente antes de comprar um drone.
* Essa é uma versão resumida da reportagem publicada na revista Farming Brasil.